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Black Flag celebra os 40 anos de “My War” em São Paulo

Com abertura dos Garotos Podres, quarteto norte-americano toca disco influente na íntegra e grandes clássicos da carreira para uma plateia em êxtase


Black Flag no Carioca Club | Foto: Vinícius Vieira

Por Vinícius Vieira


Na última sexta-feira (27), o influente quarteto norte-americano de punk rock, Black Flag, se apresentou no Carioca Club, em São Paulo, no penúltimo show da tour brasileira do grupo que celebra os 40 anos do My War, o segundo disco da banda, lançado em 1984, e que influenciou diretamente o nascimento de subgêneros do rock como o grunge e o stoner, devido a sua melodia densa, experimental, pesada e arrastada que emulava de maneira simplória o Black Sabbath.


Quem ficou responsável por abrir a festa foram os heróis locais dos Garotos Podres, que também celebram quatro décadas de carreira e colocou o público presente para cantar e agitar os seus clássicos atemporais em 50 minutos de show, como: Garoto Podre; Oi, Tudo Bem?; Rock do Subúrbio; Johnny; Anarquia Oi, A Internacional, Papai Noel Velho Batuta, além da versão do hino do Partido Comunista Português, Avante Camarada, e do cover de Antifa Hooligans da banda italiana Los Fastidios.


Sempre politizado, o vocalista Dr. Mao fazia questão de discursar antes de cada canção, trazendo o contexto político para as letras entoadas por si. Antes de tocar Aos Fuzilados da C.S.N., Mao relembrou que a canção foi escrita em memória aos três operários da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) que foram assassinados pela Polícia Militar, em 1988, ao estarem em greve por melhores condições de trabalho: “Essa canção é dedicada a todo operário brasileiro”, bradou Mao. O show encerrou com a infâme Vou Fazer Cocô, com o vocalista encarnando a sua persona professor e contando uma historinha na qual um ditador permitiu todas criancinhas fazerem as suas necessidades fisiológicas apenas em dias alternados, em clara alusão ao ex-presidente Bolsonaro que disse em entrevista que essa seria a medida ideal para preservar o meio ambiente. Como bem afirmou o guitarrista Alberto Rinaldi, esta apresentação dos Garotos Podres também marcou a estreia do novo baterista do grupo, o jovem Negralha, que assume o posto deixado por Tony Karpa, que hoje se dedica integralmente a banda Maturí (que foi recentemente entrevistada pelo Seguimos Fortes aqui).



Garotos Podres | Foto: Vinícius Vieira

Após uma rápida troca de palco, às 21h em ponto, o Black Flag soava os primeiros acordes de My War, primeira faixa do disco homônimo, para uma casa lotada que respondia com a mesma fúria na platéia. Apenas com o guitarrista Greg Ginn da formação original, sendo o músico o principal detentor do nome do grupo, o que gera até hoje brigas e disputas judiciais com os ex-integrantes da banda, o lineup que se apresentava no Brasil naquela ocasião contava com o skatista profissional Mike Vallely, que está nos vocais do Black Flag desde 2013, além do baixista Harley Duggan e do baterista Charles Wiley, este último idealizador do projeto Corn Man, voltado ao rock progressivo.


Voltando ao show, a primeira parte da apresentação, toda dedicada ao My War, seguiu com a execução das músicas na ordem do disco, com Can’t Decide; Beat My Head Against the Wall; I Love You e Forever Time, representando a parte mais acelerada, urgente e punk do álbum, enquanto The Swinging Man; Nothing Left Inside; Three Nights e Scream, desembocam no experimentalismo, com melodias arrastadas, afinações pesadas e que, na época, influenciaram garotos como Mark Arm, Steve Turner, Kurt Cobain, Mark Lanegan, Brant Bjork e Josh Homme. É preciso afirmar que a parte experimental de My War, que para muitos chega a ser um problema no disco, por quebrar toda a dinâmica do álbum, ela funciona perfeitamente ao vivo, sendo muito bem executada pela cozinha da banda de apoio do Greg Ginn, ganhando ainda mais peso e consistência.


Após uma breve pausa de dez minutos, o Black Flag retornou ao palco do Carioca Club para a segunda parte do setlist, recheada com os principais sucessos que incendiou o público presente, mas que também iniciou uma animosidade da banda com a plateia, digna do documentário The Decline of Western Civilization (1980). Logo na primeira música, o hino atemporal Nervous Breakdown, um fã subiu ao palco para praticar stage dive na plateia, mas acabou se machucando, o que fez a banda interromper a música na metade, enquanto um irritado Mike Vallely dizia: “Isso não tem graça. Não vamos voltar a tocar até que a situação esteja controlada”. Durante Fix Me, outro fã subiu ao palco, mas demorou para pular na plateia, o que irritou ainda mais Mike, que com muita agressividade tentou retirar o fã do palco à força e pediu para a segurança local expulsar o jovem do recinto. Com uma pequena parte da platéia vaiando o skatista/vocalista e até entoando nomes de outros vocalistas célebres que integraram o grupo no passado como Henry Rollins, Keith Morris e, até mesmo, Ron Reyes, aos poucos o clima foi amenizando e show voltou a normalidade com um imenso desfile de hits, passando por quase toda discografia do grupo - deixando de fora o péssimo What The… (2013) - com Wasted; Jealous Again; No Values; Black Coffee; Six Pack; Depression; In My Head; Room 13; Gimme Gimme Gimme; Revenge e Rise Above.



Black Flag | Foto: Vinícius Vieira

Mesmo que hoje tenha apenas Greg Ginn da formação original, cumprindo muito bem o seu papel como “guitar hero punk”, executando com muita precisão os seus riffs velozes e os seus solos microtonais, sua principal característica, na mesma medida que se irritava com os fãs que subiam ao palco e derrubavam a caixa de retorno, também estampava um largo sorriso, demonstrando a imensa satisfação de estar ali entoando clássicos de uma geração, é preciso reconhecer que o Black Flag se encontra hoje em um dos seus melhores momentos musicais e muito se deve ao baterista Charles Wiley. Detentor de uma técnica impecável, o músico executa o repertório com muita precisão e força, além de imprimir a sua própria marca em canções clássicas nas quais a bateria soava perdida e descompassada nas precárias gravações originais, como é o caso de I've Had It e TV Party, que ganharam novos arranjos nas mãos de Wiley e que agradaram o público presente.


A banda fechou as duas horas de apresentação com a clássica versão de Louie Louie de Richard Berry, e em uma das poucas palavras trocadas com público, Mike Vallely agradeceu a todos pela aquela noite, que se alguns momentos perigava ser caótica, se tornou uma grande celebração a um dos mais influentes nomes do punk rock mundial.

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