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Contra o machismo e o patriarcado, banda Clandestinas lança o disco de estréia

Atualizado: 18 de ago. de 2020

Por Vinícius Vieira

Urgente, cru, visceral e feminista, esses são adjetivos que define perfeitamente o disco de estreia da banda Clandestinas.

Formada na cidade de jundiaí, em 2016, o trio conta com Camila Godoi (baixo e voz), Alline Lola (guitarra e voz) e Natália Benite (bateria e voz). Oriunda do seio da militância feminista, a banda sempre inicia as suas apresentações dizendo “Nós não somos artistas, somos militantes”, e é justamente a militância feminista, LGBTQ+ e antifascista que permeia as 13 faixas do debut álbum do grupo, lançado no dia 22 de maio deste ano.



Clandestinas: Camila Godoi (voz e baixo), Alline Lola (guitarra e voz) e Natália Benite (bateria e voz) - Foto: Tati Silvestroni


As referências sonoras são inúmeras, o punk rock aparece em Rotina, a primeira música de trabalho do disco, que ganhou um lyric video, assinado pela Rebeca Konopkinas, uma semana antes do lançamento.





E também na curtíssima Boceta de Pandora, canção que desconstrói a mitologia machista da “Caixa de Pandora”, de que uma mulher abrindo a caixa, permitiu que o mal entrasse no mundo. Manifesto, também tem um pézinho no punk, mas traz um irreverente funk na introdução, com as palavras de ordem:

“Segura, segura, segura seu machista.

América Latina vai ser toda feminista.

Segura, segura, segura seu machão

Na banda Clandestinas só tem bi e sapatão”.


O pós-punk de Joy Division pode ser notado logo na introdução de baixo da faixa Nenhuma a Menos, mas que no refrão cai em um dançante baião. Aliás, as brasilidades sonoras dão a tônica do disco, como é o exemplo da poética e dilacerante Na Lua, Ana, que narra o caso Luana Barbosa dos Reis, mulher negra e lésbica que foi assassinada na frente do filho, em uma abordagem criminosa da Polícia Militar de Ribeirão Preto (SP), no ano de 2016. A música tem uma passagem de samba e depois culmina em um rap com a participação mais que especial da rapper Luana Hansen.


Além de Luana Hansen, o disco conta com Mariah Duarte tocando piano no blues Nota Solta, além da ex-Clandestina Aline Maria, que solta a voz em seis canções, entre elas, O Risco, que começa com uma fortíssima guitarra grunge, e com conta com a sua participação no marcante coro de vozes. Aliás, o trabalho vocal nas músicas, é outro grande destaque do álbum. Natália Benite e Alline Lola dividem os vocais de Velcro, a grande exaltação do amor lésbico, que diz orgulhosamente: “Vamo namorar, mulher com mulher, pra gente gozar quando bem quiser”. Enquanto Camila destoa, no bom sentido, ao fazer uma interpretação visceral na balada Lovely Lola, a única canção em inglês do disco.


Entretanto, o ponto que necessita ser louvado e ovacionado é fato de Clandestinas, o disco, ser uma obra totalmente feita por mulheres e não-bináries. Quem assina a produção artística e mixagem é Marianne Crestani, conhecide por seu trabalho musical com a Bloody Mary Una Chica Band. A gravação e engenharia de som ficou a cargo de Helena Duarte, enquanto a arte emblemática da capa foi feita pela Emília Santos.



As Clandestinas ao lado dxs produtorxs Marianne Crestani e Helena Duarte


Musicalmente falando, Clandestinas não é um álbum normal, não é música para iniciantes, pois não se trata de música comum, é um grandioso manifesto político traduzido em canções. Clandestinas é um disco conceitual, que vem para inverter a pirâmide, destruir o patriarcado, desconstruir a mitologia machista, esmagar o fascismo, interseccionar o feminismo, combater o assédio, denunciar as injustiças e, no fim de tudo, gozar a vida e celebrar o amor livre.


Se você ainda não teve oportunidade de assistir a uma apresentação ao vivo das Clandestinas, ao terminar de ler essa resenha, dê um play no disco em sua plataforma de streaming favorita. A sensação será a mesma.




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