Com quatro anos de existência, o grupo jundiaiense de grindcore acaba de lançar novo EP, Mastigador de Dentes
Por Vinícius Vieira
Formado em 2020, na cidade de Jundiaí, interior de São Paulo, o Burrice Precoce é um dos principais representantes da nova cena do grindcore, crust e powerviolence no país, chegando a despertar a admiração de renomadas bandas do cenário underground, como os santistas do Surra.
Com um som cru, hipnótico, barulhento, pesado e desesperador, o grupo formado por Igor (vocal), Magal (guitarra), Gabi (baixo) e Gudão Pigas (bateria), aborda temas sociais e de saúde mental em suas letras, o que tem aproximado o quarteto de um público cada vez mais jovem: “É difícil de acreditar que tem tanta gente nova curtindo um som como o nosso”, afirmam.
Em menos de dois anos, o grupo lançou cinco materiais: o EP de estreia Desumano (2022), o single Plano de Extermínio (2022) o álbum Pessoas com Aroma de Doença (2023), o split Maldita Burrice (2023), em parceria com a banda paulistana Malditos Jovens do Reggae, e agora o quarteto acaba de lançar o seu segundo EP, intitulado, Mastigador de Dentes (2024).
Sobre esse novo lançamento e o seu processo de criação, além da possibilidade de flertar com novas nuances sonoras, que o Burrice Precoce bateu um papo com o Seguimos Fortes, falando também sobre a elogiadíssima parceria com os Malditos Jovens do Reggae e os planos futuros do grupo, diante do crescimento precoce do grupo na cena: “a gente não entende muito bem porque tivemos esse crescimento”.
Confira.
Mastigador de Dentes é o mais recente trabalho lançado pelo Burrice Precoce. Qual é o contexto por trás desse nome e da faixa título?
É sobre sofrer as consequências dos próprios atos, tentar colar os órgãos arrancados do seu estômago com fita isolante.
A arte do novo disco são colagens feitas pelo artista Damaged. Qual é o significado dessa capa tão impactante?
A gente queria algo meio subjetivo, mas com uma pegada esotérica. Procuramos colocar algumas coisas específicas como simbolismo e pedaços de corpos, mas deixamos bastante na mão do Toninho para ser abstrato. A capa complementa bem a ambientação, tentar ser mais simples e dar um passo pra trás. Ela estava indo numa direção artística que já não tinha tanto a ver com a nossa estética, precisávamos dar um passo pra trás pra se entender melhor.
Como foi o processo de composição das músicas desse disco? Como surgem as letras e as melodias das canções do Burrice Precoce?
Esse EP teve o processo mais demorado. A música Mastigador de Dentes a gente tocava meses antes de lançar o EP. Geralmente, alguém traz alguma ideia de riff ou de letra que usamos como ponto de partida, e o restante da música desenvolvemos os quatro juntos. Na parte instrumental, a gente tentou bastante fugir do senso comum de fazer que cada música tivesse algo que a torne diferente ou menos genérica. As letras são a parte mais espontânea, é um fluxo de consciência, Inclusive Romântica é uma que foi feita na hora, a letra veio depois do instrumental.
Em Mastigador de Dentes, a banda voltou a trabalhar com o produtor Maurício Zucarelli (proprietário do selo Clichê Records e guitarrista da banda Maturí), que também havia assinado a produção do primeiro EP do grupo, Desumano (2022). Como foi trabalhar com ele novamente?
Tanto a gente, quanto o Zuca, queria fazer algo mais trabalhado que o primeiro. Foi interessante por conta da bagagem de experiências que ele pôde compartilhar com a gente, em geral. Ele ainda acha estranho o som que a gente faz, mas não dá aquela carteirada de músico, “de que estamos fazendo da forma errada”. Ele nos aconselha em algumas partes.
Mastigador de Dentes encerra com Algo Novo Sob o Sol, que mostra em sua introdução uma nova faceta do grupo, desde a guitarra com acordes de pós punk, até um andamento mais cadenciado. No Burrice Precoce há espaço para novas experimentações sonoras?
A gente sempre tenta implementar novos elementos nas músicas, principalmente nesse EP, a gente se esforçou pra toda música ter algo de único. Vem muito da experimentação de cada ensaio, de ficar tentando colocar acordes diferentes e como isso pode se encaixar na nossa sonoridade.
O que diferencia o Burrice Precoce das demais bandas de grindcore e powerviolence é o fato das letras além de abordarem temas políticos e sociais, vocês aprofundam bastante a questão da saúde mental e em questões psicológicas e pessoais. Qual a importância de abordar estes temas nas canções da banda?
Não teria como ser diferente faz parte da nossa expressão individual, escrever sobre essas coisas é um processo de "colocar as coisas pra fora", muito é do que sentimos. Também queríamos fugir do clichê, de algo que pode estar saturado, expressar o óbvio pra pessoas que já concordam com nossa ideologia pois ela é explícita. E mesmo não sendo tão intencional, as pessoas se identificam
O Burrice Precoce é uma banda bem ativa. Em menos de dois anos vocês lançaram dois EPs, um single, um álbum e um split com os Malditos Jovens do Reggae. Por que é importante para vocês lançar tantos materiais em tão pouco tempo?
Para registrar as mudanças na sonoridade da banda. Os últimos lançamentos não representavam mais a estética que a gente queria passar, queríamos também mostrar nosso som como ele estava. Em show, muitas vezes, não dá pra capturar o som como a gente idealizou. O objetivo principal sempre foi que as pessoas pudessem escutar nosso som.
O split Maldita Burrice, com os Malditos Jovens do Reggae, foi muito bem aceito pelo público. Como surgiu a ideia de fazer esse material?
Teve um período que dividimos muitos rolês e desde o começo sempre fomos muito amigos, de trocar ideia e se foder organizando role juntos. Fora que o nosso som é parecido, porém diferente. E, esporadicamente, rolava esses papos de split, foi questão de tempo até bolarmos a ideia e fazer o Maldita Burrice.
O Burrice Precoce faz parte de uma nova cena de crust/grind que ainda conta com Malditos Jovens do Reggae, Crush All Tyranny, D.S.T e Cáustico, e essa cena tem ganhado muita atenção de um público mais jovem e, principalmente, feminino. Como tem sido a aproximação com este público?
A gente gosta muito de ver a galera mais jovem colando nos rolês, e legal que o pessoal novo se sinta aceito na cena, sinta que possam ter entrada nesse meio. Ainda rola uma síndrome de impostor, é difícil de acreditar que tem tanta gente nova curtindo um som como o nosso.
O Burrice Precoce nunca escondeu de ninguém a sua admiração pela banda santista Surra, mas o que era uma relação de fã e ídolo, hoje se tornou uma relação de amizade, com o grupo usando a camiseta de vocês em shows e em fotos promocionais, inclusive, com o Burrice sendo convidado para tocar no show de lançamento do novo disco do trio, em Julho, em São Paulo. Como surgiu essa amizade e como é ser amigo dos ídolos?
Surgiu em um rolê em que tocamos por acaso em Jundiaí (SP), porque a banda que ia abrir pro Surra não pôde tocar dia. Depois disso, acho que o Guizão (Guilherme Elias, baixista do Surra) se interessou pela banda, começou a colar em alguns rolês em que a gente tocava e, desde então, sempre que a gente se vê nos roles, a gente começa a trocar ideia sobre diversas coisa, além de som. Acho que esses bagulho fortalece uma amizade e um respeito mútuo. É bem foda ver uns cara que tu ouvia quando era adolescente te convidando pros bagulho.
Em menos de dois anos, o Burrice Precoce teve cinco materiais lançados e fez bastante shows pelo país, inclusive dividindo o palco com grandes nomes da cena como Surra, Paura, Damn Youth e Test. Como vocês avaliam esse crescimento da banda em tão pouco tempo, e quais são os próximos planos?
O crescimento é inesperado, a gente não entende muito bem porque tivemos esse crescimento. É claro que a gente sempre se esforçou pra isso, mas acho que nossos objetivos eram mais realistas quando começamos a banda, eles foram alcançados faz muito tempo e desde então tudo foi meio que lucro. Queremos que as músicas atinjam mais pessoas e a gente vai continuar trampando como sempre, com a mesma mentalidade. A gente nunca tocou pensando nesse crescimento, o objetivo sempre foi simplesmente tocar, e fazer algo que a gente considera interessante e que traga algo de novo pro cenário.
A gente quer também conhecer novas pessoas interessadas nisso, conhecer outras bandas, tocar em outros estados que ainda não conseguimos ir.
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