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Por que Standards & Practices, do Face To Face, é o melhor álbum de covers de todos os tempos?

Lançado originalmente em 1999, disco homenageia grandes nomes do punk, rock e new wave dos anos 1980




Por Vinícius Vieira


No segundo semestre de 2024, o quarteto norte americano Face To Face fará a sua sexta passagem pelo Brasil, desta vez como headliner do festival itinerante We Are One, que vai acontecer entre os dias 30 de outubro a 3 de novembro nas cidades de Porto Alegre, Florianópolis, Curitiba, São Paulo e Belo Horizonte.


Esquentando as turbinas dessa grande turnê, o Seguimos Fortes relembra hoje um dos discos mais cultuados, não apenas da carreira do Face To Face, mas da história da música, se tratando de discos de covers, estamos falando de Standards & Practices.


Lançado originalmente em 1999, pelo selo Lady Luck, criado e gerido pelo próprio Face To Face dentro da gravadora independente Vagrant Records, e relançado dois anos depois pela própria Vagrant, muitos elementos elencam Standards & Practices como um dos melhores discos de versões de todos os tempos.


A formação do Face To Face e a que gravou o "Standards & Practices" em 1999: Scott Shiflett (baixo), Pete Parada (bateria), Trever Keith (voz e guitarra) e Chad Yaro (guitarra)

Primeiro, pela escolha do repertório. Discos de covers não são novidades nenhuma no mundo da música, muito menos no universo do punk/hardcore. Portanto é muito comum que álbuns dessa natureza, feitos por bandas de punk rock, tenham o seu repertório mais ligado ao gênero. Em Don't Forget Your Roots (2011), o disco de cover lançado pela banda nova iorquina, H2O, o grupo foi para um terreno seguro (e fértil) e fez ótimas versões de grandes clássicos do punk/hardcore, como Attitude (Bad Brains); Satyagraha (7 Seconds); I Wanna Live (Ramones); Get the Time (Descendents), entre outras. E isso não é exclusividade do H2O, o NOFX, em seu EP de covers lançado em 2011, prestou homenagens para ilustres desconhecidos do hardcore norte americano como Urban Waste, Social Unrest, Battalion Of Saints, Rebel Truth e aos canadenses do Stretch Marks. E se tratando de Brasil, o Ratos de Porão, com os dois volumes de Feijoada Acidente, homenageou grandes nomes do punk rock nacional e internacional como Hino Mortal, Garotos Podres, Inocentes, Psychic Possessor, Minor Threat, Black Flag, Poison Idea, Circle Jerks, entre outros.


No caso do Face To Face, claro que o punk/hardcore estaria muito bem representado em seu álbum de covers, com versões de Chesterfield King (Jawbreaker), The KKK Took My Baby Away (Ramones) e Merchandise (Fugazi), entretanto a banda foi mais ousada e expandiu o seu leque de variedades musicais, escancarando as suas raízes no rock oitentista e na new wave, trazendo para a tracklist do disco gêneros como o pós punk inglês representados, logo na abertura do disco, pelo The Smiths em What Difference Does It Make? e The Psychedelic Furs com Heaven. O disco ainda tem espaço para o folk do The Pogues (Sunny Side of the Street), para o rock alternativo do Pixies (Planet of Sound) e Sugar (Helpless), para o power pop/new wave do INXS (Don't Change), além do fechamento apoteótico com That's Entertainment do influente The Jam, ícone do mod rock britânico. 

 



Outro ponto fundamental em Standards & Practices, é que diante de um repertório tão diverso, era esperado que o Face To Face fizesse versões aceleradas para todas as canções, trazendo uma identidade própria, assim como os Ramones fizeram em seu álbum de covers, Acid Eaters (1993), apresentando versões sônicas de My Back Pages (Bob Dylan), Have You Ever Seen the Rain? (Creedence Clearwater Revival) e Somebody To Love (Jefferson Airplane), que destoavam completamente (no bom sentido) das originais. Porém, o que se tem no álbum do quarteto californiano são versões bem fieis às originais, seguindo o mesmo andamento e com pouquíssimas mudanças em relação aos tons das músicas (apenas What Difference Does It Make? e The KKK Took My Baby Away tiveram mudanças tonais), entretanto com uma produção mais cristalina que reforça todo punch do conjunto e trazendo atemporalidade aos clássicos revisitados. Tudo isso abrilhantado com a voz poderosa de Trever Keith que consegue imprimir com maestria os agudos de Morrissey no cover do Smiths, da mesma forma que coloca melodia nos vocais rasgados de Blake Schwarzenbach do Jawbreaker e na voz urgente de Ian MacKaye do Fugazi.



Gravado no Rumbo Studios, na Califórnia, famoso por ter abrigado artistas como Tom Petty and The Heartbreakers, Stone Temple Pilots e Guns N’ Roses, com o seu álbum de estreia Appetite for Destruction (1987), Standards & Practices contou com a produção da própria banda, sob a supervisão de Chad Blinman (The Get Up Kids, Saves the Day, Jackson United e Senses Fail), que já havia trabalhado com o Face To Face no álbum anterior, Ignorance Is Bliss (1999), e iria trabalhar com a banda nos discos: Reactionary (2000), How To Ruin Everything (2002) e nos splits com Dropkick Murphys (2001) e Rise Against (2011).


Em 2020, diante da pandemia da Covid19, o Face To Face lançou um segundo volume de Standards & Practices, compilando uma série de covers que a banda havia gravado e lançado ao longo da carreira, como a versão de Tommy Gun do The Clash, que saiu originalmente no tributo Burning London (1999), além de Private Hell (The Jam) e Bad Reputation (Joan Jett) que saíram no EP Nothing Succeeds Like Success, lançado pelo grupo em 2002, sem contar as versões de In A Big Country (Big Country) e Planet Earth (Duran Duran) que foram originalmente lançadas como bônus na versão japonesa do primeiro Standards & Practices. Na mesma ocasião, o primeiro volume do álbum de covers do Face To Face foi lançado pela primeira vez em vinil.


Ouça Standards & Practices no volume máximo e entenda de onde vêm as referências sonoras que fazem o Face To Face ser uma das bandas mais relevantes da cena melódica dos anos 1990, além de ser uma cartilha suprema de como fazer um álbum de covers sem desrespeitar o conteúdo original, porém mantendo a sua identidade sonora.

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