Por Vinícius Vieira, com colaboração de Camila Godoi e Caê Vasconcelos
No dia 29 de janeiro, celebramos o Dia da Visibilidade Trans, porém não há muito o que comemorar quando estamos no país que mais mata pessoas transgêneras no mundo. Segundo dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), somente entre os meses de janeiro e abril de 2020 houve um aumento de 48% de assassinatos de pessoas trans no país.
Por isso a necessidade de quebrar o “cistema" e isso se faz de diversas formas, entre elas, através das manifestações artísticas.
Sendo assim, com a colaboração da musicista e produtora de shows Camila Godoi, e do jornalista e escritor Caê Vasconcelos, ambos trans, o Seguimos Fortes montou uma lista especial de 20 Artistes Trans independentes que você precisa conhecer.
A lista, em ordem alfabética, engloba os mais variados estilos musicais, ou seja, tem para todos os gostos.
Confira
Alice Guél
Estilo: Rap
Nascida no interior de São Paulo, Alice Guél é dona de uma das línguas mais letais do rap nacional no momento. Com rimas impactantes e um discurso empoderador afiadíssimo, Alice já sacudiu o cenário independente com a sua estreia magistral em 2017, com o EP Alice no País que Mais Mata Travestis, considerado por muitos até hoje o seu melhor trabalho.
Aqualien
Estilo: Trap
Homem trans, pai, músico e proprietário do selo independente Artistrans, Aquilien é multifacetado não apenas na vida pessoal, mas principalmente em sua carreira musical. Em seu primeiro álbum completo, Re-Existência (2020), Aquilien imprime a sua identidade musical em meio a batidas eletrônicas e rimas desconcertantes que narram o cotidiano das pessoas trans em um país tão transfóbico quanto o nosso.
Bioma
Estilo: Hardcore
A banda de queercore, formada em São Paulo, tem nos vocais Gael Pinheiro, um homem trans. A sonoridade do quarteto é um hardcore pesado e denso, que em alguns momentos relembra a escola de Washington DC, de Bikini Kill, Bratmobile, Minor Threat e Fugazi.
O seu disco de estreia, União e Rebeldia, lançado em 2020, pela Laja Records, foi bastante aclamado pela mídia especializada.
Bixarte
Estilo: Rap
A rapper paraibana Bixarte, também é poetisa, escritora e atriz, mas é na música, que com apenas 21 anos de idade, ela se tornou o principal expoente do rap paraibano.
Faces, o seu primeiro disco lançado em 2019, traz a artista mostrando em suas canções a realidade diferente das travestis da periferia, com referências e exaltações às religiões de matriz africana.
Bloody Mary Une Queer Band
Estilo: Rock Alternativo
Produtore e artiste não-binárie, Marianne Crestani tem um respeito gigantesco na cena independente. Já integrou a célebre banda As Mercenárias, como guitarrista. Falando em produção musical, já produziu nomes como Charlotte Matou um Cara, Clandestinas, Bioma e In Vênus. Mas é em seu projeto solo, Bloody Mary Une Queer Band, no qual toca tudo sozinhe, que Mari Crestani mostra toda a sua verborragia musical. Ouça o EP Heart Disease (2016) e sinta a vibe
Clandestinas
Estilo: Rock
Formada na cidade de Jundiaí, o power trio conta com a vocalista e “contramachista”, Camila Godoi, uma mulher transgênera e também com integrantes não-bináries, o caso de Alline Lola (guitarra e voz) e Natália Benite (bateria e voz). O som do grupo é um elo perdido entre o pós-punk de Joy Division com o movimento Tropicália.
O seu disco de estreia, ganhou uma resenha aqui no Seguimos Fortes.
Dan Abranches
Estilo: Soul Music
Da mesma cidade de Roberto Carlos, Cachoeiro de Itapemirim (ES), Dan Abranches se tornou um rosto nacionalmente conhecido após participar do reality show The Voice Brasil, em 2019. Mas mesmo não ganhando o programa, Dan conquistou uma legião de fãs que financiaram via crowdfunding a gravação do seu primeiro single, Dark Cloud, em 2020. No ano seguinte, o cantor lançou o seu primeiro disco Titan, trazendo na sonoridade uma soul music moderníssima e dançante.
Danna Lisboa
Estilo: Pop
A belíssima Danna Lisboa transita entre a música pop, o hip-hop e a música eletrônica, gerando canções dançantes que embalam o seu vozeirão poderoso que, por sua vez, canta letras que falam do cotidiano da própria artista. É impossível escolher um melhor álbum entre Ideais (2017) e Real (2019), na dúvida ouça os dois e dance à vontade.
Föxx Salema
Estilo: Heavy Metal
Em um meio tão machista e LGBTfóbico como o heavy metal (mesmo tendo um representante gay do nível de Rob Halford), Föxx Salema surge trazendo a esperança, através das suas melodias pesadas. O som da headbanger de Bragança Paulista (SP) é um elo entre a NWBOHM de Iron Maiden, Saxon e Judas Priest (claro), com o power metal alemão de Helloween e Gamma Ray. É impossível não banguear a cabeça do começo ao fim do disco Rebel Hearts (2019).
Jasper e a Gana
Estilo: MPB
Capitaneade por Jasper Okan, artiste não binárie, o projeto Jasper e a Gana, assim como as citadas Clandestinas, transitam entre o rock alternativo e a MPB da Tropicália, criando assim um som único e atemporal. Com um EP e dois singles, que deixam um gostinho de quero mais a cada audição, esperamos ansiosamente por um trabalho completo de Jasper e sua turma cheia de Gana.
Jup do Bairro
Estilo: Rap/Trap
Por três anos, a multiartista Jup do Bairro integrou a banda da Linn da Quebrada como backing vocal. Hoje, ela própria é referência musical quando o assunto é a música negra moderna. Sem se prender a um estilo musical, Jup solta o seu poderoso vozeirão em qualquer coisa lhe valha, não é à toa que ela foi vencedora na categoria artista revelação dos prêmios Multishow e Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), em 2020.
Majur
Estilo: Soul/R&B
Muita gente - incluindo o autor deste texto - conheceu Majur após a sua participação mais do que especial na canção AmarElo do rapper Emicida. Porém, a cantora baiana de 26 anos, já tem uma longa trajetória na música soteropolitana, chegando a subir no trio elétrico de grandes nomes do carnaval baiano, como Daniela Mercury.
No ano passado a cantora lançou o seu álbum de estreia Ojunifé, que carrega uma soul music afrofuturista com elementos das religiões de matriz africana.
Mau Sangue
Estilo: Crossover (metal + punk)
Karine Campanille é um dos nomes mais respeitados do cenário underground. Multi instrumentista, ao mesmo tempo, foi baixista da banda de heavy metal Kutist, tecladista do projeto industrial Messias Empalado e vocalista e guitarrista do Mau Sangue, banda que durou até 2021, fazendo um crossover extremo, com letras progressistas, contestadoras e profanas, como a própria vocalista gosta de afirmar. Corpos Abjetos (2020), o único disco da banda, é uma explosão sonora.
Monna Brutal
Estilo: Rap
Cria das batalhas de rimas nas ruas da Zona Norte de São Paulo, Monna Brutal hoje é considerada um nome promissor no rap nacional. Chamando a atenção desde o seu primeiro álbum 9/11 (2018), com um flow único e mensagens inspiradoras, no ano passado a rapper lançou o seu segundo disco 2.0.2.1 e o EP La Janta. Firmando cada vez mais o seu nome na cena hip-hop underground.
Navalha Carrera
Estilo: Lo-fi/Instrumental
Produtora musical e guitarrista da banda da cantora Letrux, a musicista Navalha Carrera também se jogou em carreira solo e lançou no ano passado o seu álbum de estreia Ondas Consideráveis, um disco instrumental, completamente lo-fi, lembrando em alguns momentos todas as pirações e genialidades do Sonic Youth. No disco, além de produzir e assinar a composição de todas as músicas, ela é responsável por todas linhas de guitarra, baixo e sintetizadores.
Ros4
Estilo: Rap
A rapper e artista visual do Distrito Federal, Ros4, faz uma música que engloba diversas nuances sonoras, como é o caso do seu último single Baby, Eu Quero Você, produzida pelo rapper Mar$al, que carrega consigo elementos do tecnobrega e, até mesmo, de forró, utilizando instrumentos como o triângulo. Entretanto, o seu trabalho mais aclamado é o EP Rosa Maria, Codinome Rosa Luz, lançado em 2017.
Travagiu
Estilo: Eletrônica/Lo-Fi
Só pelo incrível nome artístico da artista Giulianna Nonato, Travagiu, você deveria voltar todas as atenções pra ela. Mas o som eletrônico/experimental/Lo-Fi que a mesma faz e que está presente em seu EP de estreia Bruta Flor é digno de toda curiosidade e atenção. O som da Travagiu seria algo como Sonic Youth tentando tocar Kraftwerk, na companhia de David Bowie na fase de Berlim. Ficou curioso? Ouça e sinta!
Uma Luiza Pessoa
Estilo: MPB
No melhor estilo “One Travesti Band”, Uma Luiza Pessoa é o projeto musical da artista Luiza Pessoa, que faz o verdadeiro “assobiar e chupar cana” em todas as músicas. Se apresentando ao vivo com um pedal de looping e fazendo algumas percussões com o próprio corpo, os discos da musicista são verborrágicos e contestadores, mesmo diante do dedilhado mais suave do violão. A Cigarra na Folha de Pedra (2018) e A Casa dos Homens (2019), são dois discos que todo mundo deveria ouvir.
Umbilichaos
Estilo: Doom Metal
Ainda nas “bandas de uma trans só”, Umbilichaos é o projeto de doom metal da vocalista, guitarrista e multi-instrumentista Anna Chaos. O som pesado é fortemente associado a grandes nomes do metal extremo, como Celtic Frost, Death e Neurosis. Somando EP’s, singles e álbuns, Anna Chaos gravou ao todo 13 (!!) materiais com a sua banda solo.
Urias
Estilo: Pop
Por última na lista, mas não menos especial, Urias é como um foguete, não para de subir. Iniciando a sua carreira como modelo, chegando a desfilar em eventos como SPFW, foi ao soltar a voz perto de um preparador vocal que ela ouviu: “Você precisa gravar”. E foi seguindo essa dica, que hoje o seu single Diaba (2019) está com mais de 11 milhões de streamings no Spotify. Recentemente, Urias lançou Fúria, o seu primeiro álbum completo.
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